terça-feira, 20 de abril de 2010

A nova investida da Turquia na Europa

Boa parte da história turca está relacionada com os Bálcãs. Basta lembrar que esta região da Europa esteve sob domínio otomano por mais de 400 anos. Hoje ainda permanece com um pedaço de território em solo europeu, do tamanho do estado de Sergipe, onde está parte da antiga cidade de Constantinopla – rebatizada de Istambul após a queda do Império Bizantino, em 1453. Essa peculiaridade faz da cidade de Istambul a única no mundo a estar em dois continentes ao mesmo tempo.

Por isso, chama a atenção a entrevista do chanceler turco, Ahmet Davutoglu, ao jornal “Folha de S. Paulo”. O foco principal é o papel de mediador ao qual o país se propõe assumir em relação ao vizinho Irã. Mas também revela que o país pretende usar sua localização estratégica no globo para aumentar sua influência, seja no Oriente Médio, seja nos Bálcãs – duas regiões nas quais o antigo Império Otomano deteve a supremacia por séculos.

Eis alguns trechos da entrevista que o chanceler turco, durante visita a Brasília, concedeu ao jornal:

“O Brasil é líder de processos regionais na América Latina, e a Turquia tem esse papel no Oriente Médio, nos Bálcãs e na Ásia Central.”

"Recentemente, ajudamos a promover a abertura do diálogo entre a Bósnia e a Sérvia, que já levou à normalização da relação bilateral, com a nomeação de um embaixador bósnio em Belgrado. Posso dar muitos outros exemplos.”

“Nosso objetivo estratégico é nos tornarmos membros da UE, e esse processo vai continuar. Ao mesmo tempo, a Turquia quer estar ativamente envolvida em todos os processos nas regiões vizinhas, do Oriente Médio aos Bálcãs, numa política que chamamos de problema zero e integração máxima com a vizinhança. Na verdade, é uma política compatível com os valores europeus.”


Uma das perguntas feitas pela Folha merece destaque. Ela questiona o chanceler turco acerca das pretensões do país, como se houvesse a intenção de reviver o Império Otomano:

FOLHA - Há entre alguns líderes árabes a desconfiança de que a Turquia estaria tentando reviver o Império Otomano. Como o senhor responde a essas suspeitas?
DAVUTOGLU - A Turquia respeita todos os países que foram parte do território otomano no passado. Somos Estados iguais, não queremos dominar nenhum deles nem a região. Mas, por causa da história comum, temos certas responsabilidades. Por exemplo, quando houve a guerra na Bósnia, em 1993, e milhares de bósnios foram mortos, milhares de mulheres bósnias foram estupradas, os bósnios pediram ajuda a nós, viram na Turquia um lugar de refúgio.
O mesmo aconteceu em Kosovo, na Tchetchênia. Quando os curdos foram perseguidos por Saddam [Hussein] no Iraque, mais de 195 mil vieram para a Turquia. Por quê? Porque acham que podemos ajudá-los a resolver seus problemas. Essas comunidades consideram que temos responsabilidades especiais, e estamos tentando dar conta delas. Tentamos criar ordem à nossa volta, não dominar nenhum país ou região.


A entrevista completa pode ser lida no link abaixo:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u723068.shtml

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