quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Estônia e Sérvia: dois extremos no Leste

Apesar da grave crise enfrentada pelo euro, entrar na União Europeia e adotar a moeda continental no futuro ainda são objeto de desejo para a maioria dos países ainda de fora do bloco, em especial no leste. Mas enquanto certos países experimentam avanços a passos largos rumo à tão sonhada integração, outros patinam. Como exemplos desses dois lados podem ser citados a Estônia e a Sérvia.

Integrante da UE desde 2004 e parte da zona do euro desde janeiro deste ano, a Estônia é atualmente considerada um país modelo dentro do bloco. A pequena ex-república soviética tentou apagar qualquer vestígio da URSS no sistema político e burocrático e não hesitou em “cortar na própria carne” para enfrentar a crise global de 2008, que afetou duramente o país: cortes em serviços sociais e de saúde, redução nos salários e na burocracia estatal. Tudo isso com o consentimento da população, que não esboçou reação às medidas adotadas pelo governo – em outros países o efeito de medidas de arrocho como essas causariam mais e mais protestos.

Como resultado dessa política, o país atualmente tem baixo nível de endividamento, atrai investidores e empreendedores de toda a Europa e conseguiu com facilidade cumprir as metas para adotar o euro. Depois de encolher nada menos que 14% em 2009, o PIB estoniano já acumula alta de 8% nos dois primeiros 
trimestres deste ano. Se tal crescimento vai se manter nos anos seguintes ainda não é possível prever, mas são suficientes para atrair a simpatia de Bruxelas.

Do lado oposto da questão estão os países dos Bálcãs que ainda não ingressaram na UE, em especial a Sérvia. No último relatório feito pelos países-membros do bloco, a principal sucessora da antiga Iugoslávia teve recomendado status de candidato, mas sem data certa para início das negociações. Recados duros também foram enviados à Bósnia e Albânia para que primeiro consigam resolver suas demandas internas. As exceções são Croácia e Montenegro, que podem ingressar no tão sonhado bloco a partir de 2013 – para grande irritação da Sérvia.

Em Belgrado era grande a crença que a captura do general Ratko Mladic eliminaria os obstáculos entre o país e a entidade. Passados quase seis meses da entrega do ex-militar ao Tribunal de Haia, o crescimento da tensão envolvendo o Kosovo esfriou as negociações com Bruxelas. Somada à alta taxa de desemprego, na casa dos 20%, tal baque reduz o apoio da sociedade a uma futura entrada na UE e vira argumento para a oposição nacionalista e radical. Representada por Tomislav Nikolic, essa aliança perdeu por apenas 100 mil votos a eleição presidencial de 2008 para o candidato pró-Europa e reeleito Boris Tadic.

Além de se preocupar com a crise da dívida, a UE também não pode descuidar da integração do restante da Europa, caso pretenda ser um bloco que represente a totalidade do continente. Mas dois fatos ficam claro a partir desses dois exemplos: que lidar com um país praticamente iniciado do zero há vinte anos atrás como a Estônia é uma coisa; e lidar com outro com passado recente de conflitos e ainda cheio de questões étnicas, políticas e históricas para resolver é bem diferente. E a Europa mostra que ainda não aprendeu a lidar com a instável região balcânica. 

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