quarta-feira, 25 de maio de 2011

TV sérvia pede desculpas por apoio a Milosevic

Em uma iniciativa inusitada e sem precedentes, a emissora RTS (Rádio e Televisão Sérvia) pediu desculpas aos cidadãos sérvios e de nações vizinhas por “insultos, difamação, e incitação ao ódio” em seus programas enquanto o ditador Slobodan Milosevic esteve no poder, entre 1989 e 2000.


                                                                                                               
A RTS, que foi considerada um dos pilares do antigo regime e sua maior porta-voz, é a primeira emissora a fazer tal retratação junto à sociedade sérvia. O canal, que deixou de ser estatal em 1996 para virar emissora pública, era tão identificado com Milosevic que teve sua sede na capital, Belgrado, depredada e incendiada em meio aos protestos que levaram à queda do regime, em outubro de 2000. Um ano antes, o mesmo local foi bombardeado pela Otan – 16 funcionários morreram no ataque.

Zarko Trebjesanin, um dos atuais integrantes do Conselho de Administração da RTS, admite que a emissora poderia ter feito o pedido de desculpas antes, mas reforça que "nunca é tarde demais".


Prédio da RTS, em Belgrado
Crédito: Balkan Insight

Avanços à parte, o que poderia estar por trás desse mea culpa, onze anos após o fim da era Milosevic? Melhora da reputação junto à sociedade? O desejo da Sérvia de entrar na União Europeia (UE) ? Na verdade, ambas podem ser consideradas.

O comunicado da RTS deixa claro a atual diretriz editorial da emissora, de defesa dos princípios do Estado de Direito, justiça social, democracia, direitos humanos e das minorias, além do "compromisso com os princípios e valores europeus". Essa orientação – existente pelo menos na teoria – pode muito bem ser entendida com mais um dos esforços sérvios para tentar se redimir da má fama adquirida na era Milosevic e na busca por uma vaga na UE. Até agora, a Eslovênia é a única das ex-repúblicas iugoslavas a integrar o bloco.

Esse novo perfil da RTS, claro, é atacado pela oposição nacionalista (que inclui antigos aliados de Milosevic), contrária à adesão do país à EU e que acusa o canal de fomentar uma permanente campanha pró-governamental e de ser a "correia de transmissão" dos dirigentes pró-ocidentais de Belgrado, empenhados numa rápida aproximação à União Europeia (UE). A direção da RTS nega as acusações.

O fato mostra que, independente da forma de governo, a RTS continua uma peça importante no xadrez político sérvio, mas também sujeita aos solavancos que envolvem a disputa pelo poder. E, quando se trata  da Sérvia, eles são frequentes.

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