domingo, 5 de dezembro de 2010

Rússia, 2018

Primeira Copa no leste europeu, projetos ambiciosos, dinheiro (muito), lobby. Com esses argumentos e elementos persuasivos, a Rússia foi eleita pela Fifa a sede da Copa do Mundo de 2018, vencendo a candidatura individual da Inglaterra e as coletivas de Espanha/Portugal e Holanda/Bélgica. Para 2022, o torneio será disputado no Qatar, mas aqui nos ateremos aos russos.


Protestos das demais candidaturas à parte, a vitória da Rússia na escolha para sede em 2018 representa um importante retorno para o alto investimento que o futebol do país vem recebendo nos últimos anos, com os clubes russos conquistando espaço no cenário europeu e também tornando-se destino de jogadores de alto nível técnico. Serve também como um impulso a mais para desenvolver o esporte por lá.



Mas, conforme já foi falado neste blog, o investimento sobre o futebol e outros esportes é, sobretudo, uma questão de Estado na Rússia. E também uma vitória do premiê e ex-presidente russo Vladimir Putin, um dos entusiastas da Copa no país e que deve usar o fato como um dos trunfos para voltar ao poder, em 2012.

Tecnicamente, a candidatura russa era a mais fraca das quatro finalistas, mas um dia antes do anúncio a escolha pela Rússia já era dada como certa pelo país. Protestos das postulantes perdedoras não faltaram, especialmente da Inglaterra – que ficou em último entre as quatro possíveis sedes. O próprio pleito para a escolha da sede já estava com a credibilidade comprometida, com negociações de favorecimento e acusações de lobby brotando aos montes. Denúncias de corrupção no seio da Fifa contribuíram para engrossar o caldo de desconfiança por trás do pleito.


As escolhas, claro, tiveram alto teor político. Das candidatas a sedes do Mundial, a Rússia é a que menos sofre com os efeitos da crise econômica que assola a Europa – em especial Espanha e Portugal, dentre as postulantes. Também segue a lógica atual da Fifa de promover rodízio entre os continentes na escolha das sedes (África do Sul em 2010, Brasil em 2014, Qatar em 2022), privilegiando países emergentes. Também interessa a Fifa ganhar apoio em mercados emergentes, dotados de dinheiro e que podem contrabalançar a falta de respaldo vinda de locais com mais tradição no futebol. A Rússia se encaixa perfeitamente nesse contexto.

Dinheiro não deve ser problema para os russos – que preveem gastar pelo menos US$ 20 bilhões para deixar o país pronto para receber a Copa. Além dos recursos arrecadados com petróleo e gás Entre os avalizadores da Copa russa está o magnata Roman Abramovitch, dono do Chelsea – cujo nome costuma aparecer associado a denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro – , dotado de uma fortuna estimada em US$ 11,2 bilhões.

Enquanto alguns poucos homens ostentam bilhões em fortuna, a realidade na sociedade russa é bem diferente. Apesar do forte crescimento econômico nos últimos anos, a desigualdade social no país é evidente. O custo de vida – especialmente na capital, Moscou – é dos mais altos do mundo. Apesar de ter uma renda per capita de US$ 9.050 (2007), cerca de 24 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza no país. Há sempre a chance que megaeventos como a Copa do Mundo possam deixar como herança muito mais do que estádios de futebol supermodernos, como melhorias na infraestrutura, mais emprego e desenvolvimento econômico e, consequentemente, melhor qualidade de vida à população. No entanto, com poucas exceções, o que ocorre atualmente é justamente o contrário.

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