terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ex-Iugoslávia ressurge com o cinema

Em 2011 um longa intitulado A Serbian Movie deixou platéias estarrecidas com cenas para lá de fortes. A produção chegou a ser vetada em diversas mostras mundo afora – inclusive nas que ocorreram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas apesar do gosto polêmico – ou mesmo duvidoso – deste filme, a região dos Bálcãs vive um momento especial no cinema, o melhor desde o fim da antiga Iugoslávia.

É o que mostra uma reportagem publicada recentemente pelo jornal Herald Tribune (assinantes do portal UOL podem ler o texto em português neste link). A produção cinematográfica dos Bálcãs, que até o final da década passada era concentrada em assuntos ligados às guerras que assolaram a região nos anos 1990, vem ganhando temas mais diversificados. Filmes como “A Viagem” (Eslovênia), “Josef” (Croácia), “A Fita de Casamento” (Kosovo) e documentários como “A Longa Estrada pela História dos Bálcãs” e “Oktober” (ambos da Sérvia), foram elogiados pela crítica em festivais dentro e fora dos países da ex-Iugoslávia.

Além da boa safra de cineastas locais, a atual estabilidade geopolítica – o último conflito armado foi em 1999 – ajuda a atrair produções estrangeiras para a região. “In the Land of Blood and Honey”, de Angelina Jolie, está entre elas, com locações na Bósnia; entre outros exemplos podem ser apontados “O Corvo”, de Edgar Allan Poe e estrelado por John Cusack, e o filme “Coriolanus”, com Ralph Fiennes, ambos parcialmente rodados na Sérvia.

Ex-repúblicas se ajudam

A década de guerras também prejudicou seriamente a indústria cinematográfica local, que ainda carece de recursos técnicos e financeiros. Mas a forma encontrada para driblar esses obstáculos é um dos pontos de destaque nessa nova fase do cinema da região: a cooperação entre as antigas repúblicas iugoslavas. Por exemplo: um filme sérvio pode contar com recursos financeiros e equipamento vindos ao mesmo tempo da Bósnia, Croácia e Eslovênia. Tais produções são conhecidas como “domace”, termo sevo-croata que significa “feito em casa”.

Trata-se de um belo avanço em uma região que até hoje tem rusgas étnicas agravadas pelas guerras e que ainda custam a cicatrizar por completo – e que ganha ainda mais significado com o emprego do termo “domace”. E ainda, junto com a maior procura dos estrangeiros por locações para filmagens, ajuda a devolver à ex-Iugoslávia pelo menos parte da importância cinematográfica que desenvolveu desde a década de 1920 e que teve seu auge entre os anos 50 e 80 do século passado.

Dizer que o cinema pode ser um agente de reconciliação dentro da antiga Iugoslávia pode ser precipitado neste momento. Mas se na área cultural já é possível encontrar casos de superação desse passado doloroso, aumenta a esperança de que o mesmo possa acontecer em outros setores da política e da sociedade locais.

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