terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um novo bloco soviético?

Rússia, Belarus e Cazaquistão, antigos e fiéis parceiros desde os tempos de União Soviética, vão estreitar ainda mais os laços econômicos já existentes por meio da Comissão Econômica Euroasiática, assinada no último dia 18 de novembro e que começou a existir formalmente a partir de 1° de janeiro de 2012.

O trio, que já tinha firmado acordo de união aduaneira no ano passado, dá início assim a uma futura União Econômica Euroasiática, com criação oficial já prevista para 2015. Quirguistão e Tadjiquistão, também ex-repúblicas soviéticas, já negociam ingresso no grupo.

Os líderes dos três países fazem questão de frisar que o novo bloco não significa um retorno ao passado soviético, mas sim uma maneira de fortalecer os laços históricos e econômicos entre cada um deles.

Belarus e Cazaquistão estão entre os aliados mais fiéis de Moscou. Os dois países são governados por regimes autoritários – o primeiro, com Aleksandr Lukashenko como presidente desde 1994, é considerada a última ditadura da Europa; já Nursultan Nazarabayev, no Cazaquistão, chegou ao poder em 1989, quando o país ainda era parte da União Soviética.

O grupo é uma amostra de como as ex-nações soviéticas, além dos fortes laços culturais, ainda são dependentes de Moscou. O Cazaquistão, por exemplo, foi a última das repúblicas a declarar independência da URSS – em 16 de dezembro de 1991 apenas nove dias antes da data oficial de extinção da antiga superpotência – e faz 70% de suas exportações de petróleo pelo território russo; Belarus, dependente da Rússia tanto para importar matéria-prima como para exportações, já chegou a discutir a adoção de uma moeda única com o gigante parceiro comercial e diplomático, mas o processo não foi adiante. O novo bloco, no entanto, pode não apenas destravar essa ideia como também estender essa política a outras ex-repúblicas no futuro.

A ideia de adesão, no entanto, deve passar bem longe das pretensões de países como a Geórgia e a Ucrânia – que vivem às turras com Moscou e tentam se aproximar mais da Europa Ocidental – e de Letônia, Estônia e Lituânia, Estados-membros da UE desde 2004.

A criação do bloco pode ser encarada também como uma reação do Kremlin ao crescimento da influência econômica da China sobre as ex-nações soviéticas da Ásia, ricas em gás e petróleo e alvo de grandes investimentos de Pequim. As relações com os russos, no entanto, seguem sem maiores atritos – empresas dos dois países são parceiras em projetos na região, por exemplo.

A futura União Econômica Euroasiática pode não ser um novo bloco soviético, mas mostra um posicionamento claro da Rússia em se consolidar como líder regional e tentar preservar a influência sobre os antigos países-membros, se colocando como alternativa tanto econômica como diplomática. Mas também revela que parte da nostalgia da URSS ainda sobrevive – especialmente pelos lados do Kremlin. 

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