terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ahtisaari e relação conturbada entre Sérvia e Kosovo



Este homem é Martti Ahtisaari, ex-presdiente da Finlândia e condecorado com o Prêmio Nobel da Paz este ano. Diplomata, teve atuação destacada na solução de conflitos armados em várias partes do mundo.

A escolha foi aclamada internacionalmente. Mas teve um país em especial que não gostou nadinha do premio de Ahtisaari: a Sérvia.

Explicação: o finlandês foi o escolhido em 2006 pela ONU para fazer um relatório sobre a questão do Kosovo, então província separatista da Sérvia. No fim de 2007, Ahtisaari deu parecer favorável a uma “independência supervisionada” de Kosovo, o que desagradou os sérvios.

Tendo como base o relatório do diplomata finlandês, Kosovo declarou oficialmente a independência da Sérvia em 17 de fevereiro deste ano. O fato dividiu a comunidade internacional.

Ao todo, apenas 34 países reconheceram, até agora, o novo Estado. Entre eles, nações de peso no cenário internacional, como Estados Unidos, França e Alemanha. Já o clube dos que discordam da decisão conta com Espanha e, principalmente, a Rússia. O temor é que a secessão kosovar estimule outros movimentos separatistas na Europa (e ambos enfrentam grupos assim dentro de suas fronteiras). A maior parte da comunidade internacional - entre eles o Brasil - espera pelo posicionamento da ONU, que ainda não veio.


A raiz dessa história toda é bem antiga. Para os sérvios, o Kosovo é o berço de sua pátria, histórico e religioso. Foi nessa região que, em 1389, o então Império Sérvio, em expansão pela região, foi vencido e conquistado pelo Império Otomano. A Batalha de Kosovo-Polje, como ficou conhecida, foi vencida pelos otomanos, e os sérvios perderam a independência, recuperando-a somente em 1875. Mas não a região do Kosovo, que só voltaria às mãos dos sérvios após o fim da Primeira Guerra Mundial.Em 1989, o presidente da então República Sérvia da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, aproveitando o 600º aniversário da Batalha de Kosovo-Polje, fez um discurso inflamado que acendeu o estopim do nacionalismo sérvio e conclamando-os a lutarem pela Grande Sérvia. Começava aí o fim da antiga Iugoslávia.


O mesmo Milosevic voltaria a investir contra a província em 1998, motivando a intervenção da Otan na Sérvia no ano seguinte. Com o fim da guerra, a ONU assumiu a direção da região, que ainda continuou ligada a Sérvia. É no Kosovo que estão localizados os principais santuários cristãos ortodoxos, religião predominante da Sérvia – apesar de 90% população da província ser de origem albanesa e de fé muçulmana. A Sérvia diz que jamais reconhecerá a independência kosovar, que considera um “Estado falso”.

Mas, a julgar pela direção que o assunto já tomava nos últimos vinte anos, desde o começo do fim da antiga Iugoslávia, era um acontecimento inevitável. E irreversível. Quanto à sobrevivência do novo Estado, a comunidade internacional que bancou seu nascimento é responsável direta por tal. Caso contrário, haverá mais instabilidade nos Bálcãs.

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