terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A 'tradicional' disputa pelo gás na Europa Oriental

Segundo a revista alemã Der Speigel, já viraram tradição de Ano Novo as desavenças entre Rússia e Ucrânia a respeito do fornecimento de gás ao continente europeu, grande dependente do suprimento enviado pelos russos.



Mas a tradicional disputa ganha novos contornos em 2009. Cinco países (Bulgária, Grécia, Turquia, Croácia e Macedônia) anunciaram hoje (06/01) que tiveram seus abastacimento totalmente interrompido. Áustria e Hungria também registraram drásticas reduções no fornecimento. A Rússia acusa a Ucrânia de desviar para si própria, através do gasoduto em seu território, parte do gás que deveria chegar aos demais países da Europa, além de afirmar que esta paga um valor abaixo do que deveria arcar. Já os ucranianos dizem que recebem pouco dos russos pelo papel que prepresentam na história, o de distribuidores do produto.


O caso da Bulgária é ainda pior, já que o país balcânico depende quase que inteiramente do gás russo (92% do total consumido pelo país vem da Rússia). Tudo isso durante o inverno europeu, que costuma ser bastante rigoroso e onde o gás tem papel fundamental na calefação das residências, uma das formas de enfrentar o período mais gelado do ano.


Por trás dessa queda de braço entre ucranianos e russos, que já começa a tirar o sono de outros países do continente, está um recado claro da Rússia a seu vizinho. Algo como "não coloque suas asinhas de fora porque somos maiores e mais fortes que você, e não hesitaremos em cortá-las". E a Ucrânia já deu vários sinais de que não está muito afim de andar na linha proposta por Moscou, que ainda vê a Ucrânia - a exemplo de outras ex-repúblicas soviéticas - dentro da sua esfera de influência.


A Rússia já mostrou que não costuma dar muita importância para os clamores da comunidade internacional, e dá suas demonstrações de força sem muito pudor. E também não é a primeira vez que os russos se utilizam das suas reservas de gás para objetivos que vão além das causas econômicas. Junte tudo isso com o fato de Rússia e Ucrânia terem sido duramente afetados pela atual crise financeira internacional. Ou seja, um ganho a mais com o gás faz um grande diferença para esses países. A Rússia já declarou, inclusive, que "a era do gás barato acabou".


Mesmo que o impasse se resolva logo, nada garante que ele não vá se repetir no inverno seguinte - como aliás vem acontecendo, reforçando a idéia de "tradição" que o Spiegel trouxe em sua análise. Sim, mais cedo ou mais tarde o fornecimento de gás será restabelecido para a Europa. Mas é preciso que a comunidade internacional adote uma posição mais clara a respeito do assunto, para que ele não continue a ser uma "tradição de Ano Novo". Enquanto isso, parte dos europeus vai tremer de frio.

Nenhum comentário: